quinta-feira, 23 de julho de 2009

O que eu faziam em... (anos 90)

1992: Meu irmão mais novo, Pedro, nasceu. Tentei insistentemente usá-lo como boneco nas minhas brincadeiras. Minha mãe me impediu.

1994: Usava batom de cor carmim da minha mãe. Não saía de casa sem. Aliás, não ficava sem nem dentro de casa. Hoje, raramente uso gloss, batom nem se fala. Estou à procura da vaidade perdida.

1995, 96: Jogava queimada na escola com bola de vôlei e nada de mão, pé e cabeça "frios". Os campeonatos que rolavam no Colégio Santo André, em S. J. do Rio Preto, eram barra pesada (até parece...).

Foi nessa época também que aprendi a virar estrela (aquela giro com as mãos apoiadas no chão). Custou uma noite de treino e muitos, muitos tombos na garagem de casa.

1997, 98, 99: Fui apresentada aos Backstreet Boys pelo meu irmão (prontofalei!). Ele adorava o clipe de "As long as you love me". Depois de comprar a primeira revista com a caras de Nick Carter e de seu irmão, Aaron (na época com 8 ou 9 aninhos ainda), estampadas na capa, eu me apaixonei. Perdidamente. Levaria essa loucura pelos próximos anos da minha infância e o começo da adolescência.

*Post com jeito de saudosista por causa do Babalu é Califórnia, novo xodó

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Gay Talese no Brasil: não os encontros em si, mas o jeito como eles aconteceram

Gay Talese me parece velho, mas não cansado. Tem expressividade na fala, nos gestos e um ar vivo nos olhos -- que são miúdos e cor de chumbo. Por duas vezes, eu o ouvi falar de perto. Na primeira, não tão de perto assim -- ele estava no auditório, enquanto nós o víamos pelo telão, na Flip, em Paraty. Da segunda vez, aí sim foi de pertinho, a menos de três fileiras no auditório do Masp, em São Paulo. A terceira vez acontece agora, pela TV, no programa Roda Viva, da Cultura.

Nas duas ocasiões em que eu o ouvi falar de perto, Talese tocou em tópicos parecidos -- ou foi incitado a falar sobre eles. Disse o que pensa do jornalismo de hoje e de tempos passados, como faz jornalismo e apura suas reportagens, como escreve. O jornalista tem um discurso que se repete, focado na importância de conhecer as pessoas de perto, de ter acuidade com o texto, de ter tempo e dedicar esforço para a apuração e de fiel à realidade.

Sobre os três encontros: mediação é TUDO

Em Paraty, a conversa foi entre Mario Sergio Conti e Talese. No Masp, o perguntador foi Ilan Kow. No Roda Viva, vários jornalistas questionaram Talese coordenados por Paulo Markun. Isso fez muita diferença.

Em Paraty, me senti assistindo a uma conversa entre dois bons amigos. Um falava mais do que o outro -- Talese, claro -- mas os dois tiveram tempo de exprimir suas opiniões. No Masp, entrevistado e entrevistador não pareciam falar a mesma língua (e não falavam de fato, mas as perguntas estavam sendo traduzidas simultaneamente para Talese).

A mediação no Masp ficou muito aquém. O entrevistado se esquivou de quase todas as perguntas e foi pouco questionado. A isso se prestaram os jornalistas presentes no Roda Viva, como é particular ao programa. Apesar de repetir muitos tópicos, como das outras vezes, Talese foi incitado a falar mais e falar diferente, o mais importante. Salvo algumas questões um pouco bobas -- especialmente em relação ao que ele pensa sobre a internet; Talese tem 77 anos e é, sim, averso às novas mídias.

Por que eu gosto dele

Porque ele diz mais ou menos assim (e se encaixa bastante com o que eu sei fazer e no que acredito):

- Jornalismo exige mais do que pergunta e resposta, exige observar os gestos, o ambiente, a linguagem corporal das pessoas.

- É preciso sair da agenda oficial, olhar em volta e ir em busca de gente comum.

- A principal contribuição do jornalista é encontrar boas e extradionárias histórias de gente de verdade e contá-las da melhor forma. (Por isso Talese nunca escreveu ficção).

- Não é possível encontrar todas as respostas no laptop, você tem que sair às ruas e ver o que acontece.

- E por que ele escreve, afinal? Porque é a forma como consegue expressar o que deseja da forma mais precisa possível.

Rabugento

Mais um trem chega à estação Vila Madalena. Um homem entra e se senta numa cadeira que fica num canto do vagão. O corpo dele, opulento, pesando por volta de 120 kg, ocupa mais do que uma poltrona. No espaço de sobra, ele coloca uma pasta de couro marrom -- combinando com os sapatos e com a jaqueta, também de couro marrom. Está vestindo um colete e calças da mesma cor, que se distinguem apenas pela estampa e pelo tom. Bigode e cabelos grisalhos, ralos, bochecha rosada num rosto redondo completam seu aspecto.

Por volta das 18h, o trem não costuma lotar naquela estação (a primeira da linha verde do metrô), mas as cadeiras ficam quase todas ocupadas. Apenas duas estão livres: uma preferencial e aquela ao lado do homem, onde está a pasta. Um rapaz se aproxima para se sentar ali, mas o homem logo o expulsa, aos gritos: "Vá procurar outro lugar!". Visivelmente constrangido, o moço responde apenas "o problema é seu", e sai do trem, desnorteado.

Mesmo depois de ter "expulsado" o "invasor", o homem continua a resmungar. Quando uma garota se aproxima para ocupar o assento, irrita-se e enfim decide se sentar na cadeira preferencial, unitária. Tira o jornal, parecendo intacto, de dentro da pasta, folheia-o, continua a resmungar alguns palavrões. Tosse com a agressividade fazendo um barulho danado. Ele ainda diz alguns outros xingamentos antes de eu deixar de ouvi-lo -- quando o trem é invadido pela multidão à espera na estação Consolação.