quarta-feira, 12 de novembro de 2008

1968, ah, Zuenir

"1968 - O ano que não terminou"
Zuenir Ventura, 1988

Bem escrito, como é de praxe do autor. Narrador-personagem-ator-escritor-espectador de um dos mais importantes momentos da História brasileira. Zuenir se coloca no meio do olho do furacão, propondo uma análise e narrativa de História recente da qual fez parte, atuando como jornalista. Percebe-se um tom nostálgico, uma saudade de um tempo que não volta mais. De uma gente que parece não nascer mais. De uma coragem que está em falta. Impossível não se questionar sobre o próprio comportamento, sobre a participação política e social. O incômodo é quase que inevitável.

domingo, 2 de novembro de 2008

Crítica cede espaço para divulgação no jornalismo cultural

Debate da noite de terça (21-10) destaca o esvaziamento da análise em detrimento à simples promoção dos eventos culturais

Já passava das 19h30 quando Carlos Costa, coordenador do curso de Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, chamou à mesa de debate os jornalistas Manuel da Costa Pinto e Heitor Ferraz. A tônica da discussão, que contou ainda com Eduardo Tolentino e Fábio Cardia de Carvalho, foi o papel que o jornalismo cultural exerce hoje.

Os primeiros participantes chamados para a discussão que aconteceu nessa terça-feira (21-10), inaugurando a Semana de Jornalismo no período noturno, falaram sobre a crise do jornalismo cultural, desencadeada pela postura cada vez menos crítica e mais divulgadora que as grandes publicações adotam.

Manuel da Costa é jornalista, trabalha na Folha de S.Paulo, especializou-se em literatura e apresenta semanalmente a coluna Rodapé, e uma vez por mês faz uma lista com livros, CDs e DVDs que recomenda aos leitores do jornal.

Heitor Ferraz é docente da Cásper Líbero, ministra a disciplina Jornalismo Cultural e é também poeta. Juntaram-se aos jornalistas, já depois das 20h, o produtor e compositor musical e publicitário Fábio Cardia de Carvalho e o diretor de teatro Eduardo Tolentino – representando o objeto de crítica do jornalismo, os participantes e produtores da indústria cultural.

Manuel dedica longos minutos para explicar o surgimento e a trajetória da noção de crítica de arte, desde o que considera ter sido seu início – meados do século XVI, com a Revolução Industrial. O jornalista atribui ao surgimento da idéia de individualidade o fator crucial para que aparecessem os intérpretes da arte, que antes seguia modelos estéticos pré-estabelecidos e amplamente conhecidos.

Durante a Antigüidade e a Idade Média, a noção estética pregava a imitação, a emulação como ideal. Seguir modelos considerados nobres e produzir conforme códigos já estabelecidos foram tidos como propósitos dos artistas e escritores até que surge a idéia de individualidade que se sobrepõe ao coletivo.

Com a perda do caráter imitativo, a arte moderna precisa ser interpretada por especialistas, justamente os críticos de arte, que aparecem como tradutores das produções inovadoras, que buscam a ruptura com os modelos – propósitos que se estabelecem a partir da Revolução Industrial.

O que se discute atualmente é o esvaziamento do tom crítico do jornalismo cultural. As causas para o fenômeno foram pouco exploradas pelos debatedores, que se concentraram em esboçar um panorama do trabalho jornalístico na área cultural.

O grande ponto de concordância da mesa foi a perda de espaço que a crítica de arte sofreu nas grandes publicações jornalísticas. Os veículos atuam muito mais na divulgação do que na análise dos produtos da indústria cultural. Manuel da Costa e Heitor Ferraz se arriscam a atribuir à própria arte a causa pelo fenômeno.

Os jornalistas falam em mudanças que a arte moderna, agora já chamada de pós-moderna, sofreu durante a História. Estaria havendo um retrocesso da concepção estética, que, voltando ao ideal medieval, torna-se fácil de ser consumida e pouco complexa. As características da indústria cultural e os anseios de consumo pedem produtos de fácil assimilação, que proporcionem diversão e entretenimento. O que vai contra a corrente inovadora da modernidade, nada compromissada com o desejo do mercado, tampouco com a simplicidade e a necessidade de entendimento do público leigo.

“Culpa” da arte ou não, é fato que a tão aclamada crítica de arte tem perdido espaço no jornalismo cultural, muito mais preocupado em divulgar as produções do que propriamente analisá-las. Manuel da Costa acredita que as análises das vanguardas se concentram hoje no meio acadêmico. Citando o exemplo da literatura, o jornalista atribui à proliferação dos cursos de Letras, no pós II Guerra Mundial, a migração da crítica para os departamentos universitários.

O colunista da Folha lembra que ainda são produzidas reflexões mais sofisticadas sobre arte, no entanto, elas se concentram em publicações especializadas. Por fim, Manuel ainda atenta para um problema da segmentação: o fato de que os críticos dessas publicações de cultura tendem a fazer parte do meio artístico, ou pelo menos não possuem distanciamento crítico suficiente para desempenhar as funções de analistas da arte.