domingo, 3 de agosto de 2008

José Saramago, eu gosto de você

Achei "Ensaio sobre a cegueira" numa prateleira alheia. Ainda bem! Um daqueles livros que a gente pensa: "poxa, preciso ler um dia". Ainda bem! Logo que folheei as primeiras páginas não quis mais parar (clichê?).

A forma como Saramago escreve me fascinou de cara. A ousadia de se estender quase sem divisão de parágrafos. A ausência de travessão para indicar a fala, os diálogos ali divididos apenas por vírgulas e notados devido à letra em capitular. Genial! Bem menos maçante do que parece.

Como em quase todos os livros, o início me prendeu, já no meio estava cansada, até que veio o clímax, pra que eu continuasse a ler o mais rápido que consegui até o final. A falta de nome próprio aos apersonagens, o enredo muito original, a capa de ficção científica sobre um assunto que tem muito mais a ver com filosofia, psicologia, sociologia... A espera por um final que a gente sabe que não vai chegar e mesmo assim não se deprime.

Simplesmente porque não se trata de um filme hollywoodiano futurista em que as explicações são dadas ao longo da estória, mesmo que não façam o menor sentido, mas apenas saciam o espectador ansioso por respostas. "Ensaio sobre a cegueira" discute muito mais do que um fenômeno físico catastrófico, mas um fenômeno mental e social que passa despercebido.

Saramago, a saga

Ao terminar "Ensaio sobre a cegueira" a sensação era de quero mais. Pela mesma pessoa que me veio às mãos esse livro, chegou outro do escritor português: "Intermitências da morte". Não contive a empolgação, tão logo não pude conter a decepção.

Ao contrário da versão que eu havia lido de "Ensaio sobre a cegueira", a edição de "Intermitências da morte" não sofrera ajustes para o português brasileiro. Demorei a perceber isso e o quanto estava dificultando minha leitura. Por mais genial que a obra e o autor sejam, fica mais difícil e desinteressante ler quando não se entende algumas palavras. Foi o que aconteceu também quando li Mia Couto, o enredo era maravilhoso, mas minha ignorância quanto ao português moçambicano atrapalhou muito a leitura.

No caso de Saramago percebo que foi um erro ter emendado duas obras do mesmo autor dessa forma. Até por isso, acabei intercalando uma outra leitura. O enredo de "Intermitências da morte" é muito original e serve pra gerar aquele mesmo desconforto que nos chama a refletir, caractérístico das obras de Saramago. No entanto, a euforia da descoberta de um novo estilo havia passado. Eu conhecia a maneira como o autor escreve, sabia que a não ser que o enredo me prendesse, seria difícil ler a obra com tanta voracidade. Os mesmos parágrafos que ocupam uma página toda ou até mais estavam ali, as falas marcadas por vírgulas e letras maiúsculas também. E as expressões populares, os provérbios? Tão presentes quanto em "Ensaio sobre a cegueira". A diferença é que o enigma de "Intermitências da morte" me exigia muito mais capacidade de imaginção do que pude ter, foi por isso que de certa forma me decepcionei. É sempre desconfortável "falar mal" de um bom autor, mas justiça seja feita, livros não se restringem ao talento de quem os escreve, mais importante ainda é a mente que os lê.

***
A capa da nova edição de "Ensaio sobre a cegueira" é uma cena do longa de Fernando Meirelles. Mas que absurdo! Não sei se o filme é bom ou não, mas acredito que não conseguirá ser tão genial quanto o livro, apenas porque o enredo parece muito mais coerente se escrito apenas, pois a imaginação é essencial ferramenta. Enfim, não concordo com a mudança da capa simplesmente porque a antiga ilustração é genial, assim como em "Intermitências da morte". Realmente, preciso pesquisar mais sobre essas ilustrações, quem as fez e etc, pois nunca havia visto capas tão boas!



Se alguém me entender um dia ganha um halls verde

Tantas opções. E isso não é bom? Como não seria? E é. E não é. Mas é sim. E não é também. Pára tudo.... Para tudo. Pára não. Deixe estar.