segunda-feira, 20 de julho de 2009

Rabugento

Mais um trem chega à estação Vila Madalena. Um homem entra e se senta numa cadeira que fica num canto do vagão. O corpo dele, opulento, pesando por volta de 120 kg, ocupa mais do que uma poltrona. No espaço de sobra, ele coloca uma pasta de couro marrom -- combinando com os sapatos e com a jaqueta, também de couro marrom. Está vestindo um colete e calças da mesma cor, que se distinguem apenas pela estampa e pelo tom. Bigode e cabelos grisalhos, ralos, bochecha rosada num rosto redondo completam seu aspecto.

Por volta das 18h, o trem não costuma lotar naquela estação (a primeira da linha verde do metrô), mas as cadeiras ficam quase todas ocupadas. Apenas duas estão livres: uma preferencial e aquela ao lado do homem, onde está a pasta. Um rapaz se aproxima para se sentar ali, mas o homem logo o expulsa, aos gritos: "Vá procurar outro lugar!". Visivelmente constrangido, o moço responde apenas "o problema é seu", e sai do trem, desnorteado.

Mesmo depois de ter "expulsado" o "invasor", o homem continua a resmungar. Quando uma garota se aproxima para ocupar o assento, irrita-se e enfim decide se sentar na cadeira preferencial, unitária. Tira o jornal, parecendo intacto, de dentro da pasta, folheia-o, continua a resmungar alguns palavrões. Tosse com a agressividade fazendo um barulho danado. Ele ainda diz alguns outros xingamentos antes de eu deixar de ouvi-lo -- quando o trem é invadido pela multidão à espera na estação Consolação.

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