Gay Talese me parece velho, mas não cansado. Tem expressividade na fala, nos gestos e um ar vivo nos olhos -- que são miúdos e cor de chumbo. Por duas vezes, eu o ouvi falar de perto. Na primeira, não tão de perto assim -- ele estava no auditório, enquanto nós o víamos pelo telão, na Flip, em Paraty. Da segunda vez, aí sim foi de pertinho, a menos de três fileiras no auditório do Masp, em São Paulo. A terceira vez acontece agora, pela TV, no programa Roda Viva, da Cultura.
Nas duas ocasiões em que eu o ouvi falar de perto, Talese tocou em tópicos parecidos -- ou foi incitado a falar sobre eles. Disse o que pensa do jornalismo de hoje e de tempos passados, como faz jornalismo e apura suas reportagens, como escreve. O jornalista tem um discurso que se repete, focado na importância de conhecer as pessoas de perto, de ter acuidade com o texto, de ter tempo e dedicar esforço para a apuração e de fiel à realidade.
Sobre os três encontros: mediação é TUDO
Em Paraty, a conversa foi entre Mario Sergio Conti e Talese. No Masp, o perguntador foi Ilan Kow. No Roda Viva, vários jornalistas questionaram Talese coordenados por Paulo Markun. Isso fez muita diferença.
Em Paraty, me senti assistindo a uma conversa entre dois bons amigos. Um falava mais do que o outro -- Talese, claro -- mas os dois tiveram tempo de exprimir suas opiniões. No Masp, entrevistado e entrevistador não pareciam falar a mesma língua (e não falavam de fato, mas as perguntas estavam sendo traduzidas simultaneamente para Talese).
A mediação no Masp ficou muito aquém. O entrevistado se esquivou de quase todas as perguntas e foi pouco questionado. A isso se prestaram os jornalistas presentes no Roda Viva, como é particular ao programa. Apesar de repetir muitos tópicos, como das outras vezes, Talese foi incitado a falar mais e falar diferente, o mais importante. Salvo algumas questões um pouco bobas -- especialmente em relação ao que ele pensa sobre a internet; Talese tem 77 anos e é, sim, averso às novas mídias.
Por que eu gosto dele
Porque ele diz mais ou menos assim (e se encaixa bastante com o que eu sei fazer e no que acredito):
- Jornalismo exige mais do que pergunta e resposta, exige observar os gestos, o ambiente, a linguagem corporal das pessoas.
- É preciso sair da agenda oficial, olhar em volta e ir em busca de gente comum.
- A principal contribuição do jornalista é encontrar boas e extradionárias histórias de gente de verdade e contá-las da melhor forma. (Por isso Talese nunca escreveu ficção).
- Não é possível encontrar todas as respostas no laptop, você tem que sair às ruas e ver o que acontece.
- E por que ele escreve, afinal? Porque é a forma como consegue expressar o que deseja da forma mais precisa possível.
3 comentários:
Mto bom o post. Pena que o jornalismo do Talese é igual tribo indígena inédita: ou não existe, ou está muito longe.
Tem razão, Ro! huahuahuaahu
Tanto que o próprio Talese sofre com isso hoje em dia: várias reportagens que ele foi atrás e fez não foram publicadas -- tanto pelo alto custo como pelo tempo de apuração muito longo.
Valeu!
bjao
Dani!
Adoro seus textos... você manda bem "culega"!!
Beijos
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