quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Sou menina. Eu brincava de jogar bola com os meus dois irmãos na rua, soltava pipa de vez em quando com o meu pai, dava nomes pras bonecas e tinha aquela que chamava de minha filha, a Mili - isso mesmo, igual à chiquitita. Nos eventos da família, via as mulheres preparando a comida, pondo a mesa, lavando a louça, falando sobre quem casou, quem morreu... Eu via os homens também, bebendo cerveja antes e depois do jantar, falando sobre futebol, comentando a respeito de suas mulheres.



Sou mulher. Gosto de jogar videogame, apesar de não saber muito bem como fazê-lo. Eu ligo pros meus pais sempre pra pedir conselhos, pra pedir a permissão deles em tantas decisões que tomo. Brinco de lutinha com os meus irmãos e fico puta quando não me deixam entrar no time de futebol da rua. Minha mãe sempre tenta fazer meu prato preferido quando volto pra casa; ela e meu pai ainda cuidam de mim, mesmo longe. Ah, eu também trabalho e estudo. Fico decepcionada, eufórica, animada, cansada e tenho sono, mas tanto sono às vezes...



Sou gente. Dificilmente consigo dizer não ao cara todo sujo, que está sem tomar banho há sei lá quantos dias que me aborda dizendo "me dá um pedaço do seu lanche?". Quando algum amigo fica triste, eu tento resolver seus problemas, dar conselhos, ouvi-lo. Eu sinto raiva às vezes, tenho mágoas que não saem do peito. Ah, também me sinto impotente, fraca e dimuída com frequência. Eu caio, eu me levanto, eu tropeço, bato a cabeça, choro um pouquinho, faço uma manha e já estou bem de novo. Eu digo que sou feliz e sou mesmo. Eu amo, amo muito, amo sempre.

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