quinta-feira, 26 de julho de 2007

Mais idéias improdutivas e desconexas que as férias proporcionam...

Devido a pedidos incessantes, suplicantes e irrecusáveis resolvi postar... Mas não exijam muito de mim, essas férias não têm me proporcionado momentos criativos e por essa razão vou mandar uma letra de música. Já que nesse último mês só pude me dar conta de três coisas:

- A primeira é que eu gostaria de ter sido jornalista por volta das décadas de 30 e 40, porque como tenho lido no Cobras Criadas*, os profissionais daquela época pareciam não se importar tanto com o compromisso de relatar com veracidade os fatos. E especificamente o biografado David Nasser gostava e muito de fantasiar e inventar quando escrevia importantes reportagens pra famosa revista O Cruzeiro**. Mas antes preciso me explicar! Eu digo que isso seria algo bacana se os leitores tivessem consciência e a noção clara de que estavam lendo mais ficção do que realidade... Consta no livro que as pessoas sabiam mais ou menos que Nasser gostava de aumentar os fatos, mas não que essa fosse a proposta de seu trabalho.

Forjar e fantasiar em cima de acontecimentos são atitudes bem comuns no jornalismo, mas nessa era google as coisas se complicaram (ou não). A checagem está acessível a qualquer um e mais do que nunca o jornalista deveria se comprometer em informar com precisão, deveria né.
O jornalismo do faz-de-conta me encanta muito, o que eles chamam de jornalismo literário ou new jornalism, mas acredito que me comprometer com o real da forma mais objetiva possível pode ajudar e muito o público. Já que a segunda coisa de que me dei conta nessas férias envolve a forma como a mídia trata certos assuntos...

- Como eu já adiantei, pude me dar conta do nojo que eu sinto pela forma como a mídia explora temas polêmicos! Não que fosse novidade pra mim, mas ver como as pessoas recebem a enchurrada de informações sensacionalistas foi horrível.
Passei uns dias na cidade onde nasci, Votuporanga (isso mesmo! haha) , e lá gastei um bom tempo analisando as reações das pessoas que estavam a minha volta por causa do desdobramento do caso que envolveu o avião da TAM. Não há dúvidas de que o acontecimento mobilizou e comoveu o país todo, mas me pergunto até que ponto a mídia ajudou a informar realmente a população.

A TV é o principal (e quase único) meio de comunicação que a pessoa que estive observando tem contato. Pois bem, ele é um homem de mais de 60 anos, pouco estudou e sempre trabalhou com serviços braçais. Todas as noites essa pessoa liga a TV e recebe notícias aos montes, tanto através de Datena como também do memorável casal de apresentadores do JN. Mesmo entendendo absolutamente nada a respeito de aviões, de tragédias ou de mecânica, esse homem assiste aos jornais e emite muitos comentários por aí, apenas repetindo tudo o que ouvira. Sempre se mostrando comovido e revoltado, o homem faz questão de abordar o assunto em todas as rodas de conversa e pouco se importa com opiniões diferentes, afinal se a Fátima disse...

Vendo esse comportamento eu fiquei me perguntando até que ponto seria necessário que ele conversasse tanto a respeito. Não que eu acredite na alienação como melhor forma para evitar o não-sofrimento, mas as informações que esse homem não se cansava de repetir eram pouco densas e não levavam em consideração diversos fatores. Ele dizia aos cotovelos que viajar de avião é a forma mais perigosa que existe para se locomover, sem levar em conta, por exemplo, as milhares de mortes ocorridas diariamente nas rodovias do país...

Espero não ter sido tããããão confusa assim! haha Minha intenção é expressar a revolta que sinto ao ver a exploração que a grande mídia faz com certos assuntos, sempre buscando o auto-favorecimento. Até porque a respeito das falcatruas e da corrupção que têm ocorrido por trás da manutenção do Pan, isso, ah isso ninguém menciona...

- Por fim e não menos importante, o que pude perceber nesse mês é o quanto eu adoro Zeca Baleiro! E foi por isso que comecei meu texto dizendo que postaria a letra de uma música e só. Mas (in)felizmente me empolguei e saiu isso aí! haha Esta letra é uma das que gosto mais:

Zeca Baleiro - Heavy Metal Do Senhor

O cara mais underground que eu conheço é o diabo
que no inferno toca cover das canções celestiais
com sua banda formada só por anjos decaídos
a platéia pega fogo quando rolam os festivais

Enquanto isso Deus brinca de gangorra no playground
do céu com santos que já foram homens de pecado
de repente os santos falam "toca Deus um som maneiro"
e Deus fala "aguenta vou rolar um som pesado"

A banda cover do diabo acho que já tá por fora
o mercado tá de olho é no som que Deus criou
com trombetas distorcidas e harpas envenenadas
mundo inteiro vai pirar com o heavy metal do Senhor


*COBRAS CRIADAS, LUIZ MAKLOUF
Uma resenha a respeito: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/asp211120019993.htm

**"A revista O Cruzeiro surgiu no final dos anos 20, tendo sua primeira publicação em 10 de novembro de 1928. Patrocinada pelos Diários Associados de Assis Chateaubriand, O Cruzeiro é considerada a principal revista ilustrada brasileira do século XX." (http://www.traca.com.br/?tema=padrao&pag=revistaocruzeiro&mod=inicial)

2 comentários:

Anônimo disse...

E ai Daniella!!

Demoro mas c reapereceu!
eu ia comenta sobre o texto... mas eh ruim por aqui... esse assunto merece uma mesa redonda! hehe ;)

bjao!

Anônimo disse...

"Um americano, diretor de banco, me disse uma vez que o Brasil é o país mais rico do mundo. O que você planta dá, o que quer, tem. Tem qualquer tipo de clima, todas as raças juntas, e ninguém briga. É onde todo mundo rouba, e o dinheiro nunca acaba. É uma coisa para se pensar. Minha mulher, que viveu no comunismo na Romênia, me conta os problemas por que passou. Na Itália, as pessoas contam as dificuldades da guerra. Me pergunto se a gente não tem de passar por algo assim para dar valor ao que temos. Tudo isso para chegar nas vaias. As pessoas que comandam o país não dão o devido valor ao nosso povo."

Não é Jabor, nem Mainardi, nem nada. É o Giba do vôlei, em entrevista para a Folha de hoje.


[Acho que não é a mídia que exagera os fatos, nem que os jornalistas sejam uns urubus. É que a carniça é tanta, os estragos são tão evidentes, que fica parecendo que o noticiário é coisa de outro mundo, coisa de ficção científica. Talvez por que o nosso país seja (ou esteja) mesmo coisa de outro mundo. Coisa de ficção científica.]